Estudo aponta que entre as razões para a banalização dos
crimes estão a desigualdade, o desemprego, a baixa escolaridade, a urbanização
rápida e irregular, drogas ilícitas e armas
Alto índice envolve especialmente os jovens brasileiros e é
incentivado pela impunidade, resultado da baixa taxa de investigação e
elucidação dos crimes
“Tá lá o corpo estendido no chão. Em vez de rosto, uma foto
de um gol. Em vez de reza, uma praga de alguém. E um silêncio servindo de
amém...”. Os versos da música De Frente pro Crime, do compositor João Bosco,
retrata a banalização dos assassinatos no Brasil. Um cotidiano cruel que tornou
o país o campeão em número absoluto de homicídios no mundo, com 60 mil mortes
por ano, segundo a plataforma de dados do Instituto Igarapé, uma ONG com sede
no Rio de Janeiro.
Dentre as principais causas do alto índice de mortes, o
Instituto Igarapé destaca a desigualdade, o desemprego — especialmente entre os
jovens — a baixa escolaridade, a urbanização rápida e irregular, drogas
ilícitas e armas. Somado a isso, há questões mais políticas, fruto da não
priorização dos diferentes níveis de governo, além da impunidade, resultado da
baixa taxa de investigação e elucidação dos crimes.
Redução urgente
“No Brasil ainda há um jogo de empurra entre os níveis de
governo. Em geral, tenta-se transferir a responsabilidade para os estados, pois
são responsáveis pelas polícias estaduais. É urgente o entendimento, o
compromisso com metas claras e a elaboração de planos municipais, estaduais e
federal de prevenção e redução de crimes violentos, em especial homicídios”,
pontuou Ilona Szabó de Carvalho, diretora executiva do Instituto.
Mas não estamos sozinhos nesssa triste estatística de
violência na América Latina. A região concentra 8% da população mundial e
responde por 38% das mortes violentas. São 144 mil assassinatos por ano.
Colômbia, El Salvador, Guatemala, Honduras, México e Venezuela são os
principais parceiros do Brasil no quadro alarmante de violência no continente
latino.
Campanha
Na tentativa de mudar a realidade de violência na região,
foi lançada ontem a campanha Instinto de Vida, uma aliança de 30 organizações
da sociedade civil da América Latina, que defende reduzir os homicídios na
região em 50% nos próximos 10 anos. A campanha tem sete países prioritários,
entre eles, o Brasil. “A meta, que representa uma diminuição anual de 7%, é
totalmente viável. Há exemplos de reduções anuais muito mais drásticas, de até
15%. Diminuir a violência à metade em uma década significa salvar 365 mil
vidas, sendo 180 mil delas no Brasil”, enfatizou a diretora executiva do
Instituto.
Para cumprir o objetivo, as estratégias passam pela
elaboração de um guia de políticas
públicas que deves estar compondo planos nacionais, estaduais e municipais de
redução de homicídios. Em outra vertente, a campanha vai trabalhar com a
sociedade e organizações de mobilização, no esforço de desbanalizar a questão
dos homicídios e orientar os cidadãos a cobrar investimento e a implementação
dos planos de combate à violência.
Procurado pelo Correio, o ministério da Justiça informou que
não poderia comentar os dados relativos ao Brasil por desconhecer o
levantamento do Instituto Garapé e a metodologia utilizada.
Contra as mulheres
Cerca de 503 mulheres são vítimas de agressões físicas a
cada hora no Brasil. Esse é um dos dados revelados pela pesquisa "Visível
e Invisível: a Vitimização de Mulheres no Brasil", realizada pelo
Datafolha a pedido do Fórum Brasileiro de Segurança Pública, com o apoio do
Instituto Avon. Os resultados inéditos do estudo serão apresentados para a
imprensa hoje.
O levantamento ouviu 2.073 pessoas, sendo 1.051 mulheres,
entre os dias 11 e 17 de fevereiro de 2017. Entre outras informações, a
pesquisa apontou que apenas 11%, das mais de 24 milhões de mulheres que
sofreram violência em 2016, buscarasm ajuda do sistema de justiça brasileiro.
Para 73% da população, a violência contra as mulheres aumentou nos últimos 10
anos.
A divulgação dos resultados da pesquisa integra o Programa
“Respostas Eficazes à Violência Contra as Mulheres”, organizado pelo Instituto
Avon, pela ONG americana Vital Voices e pelo Fórum Brasileiro da Segurança
Pública.
Além da pesquisa, o programa vai oferecer treinamento para
agentes públicos enfrentarem, no dia a dia, a violência doméstica e sexual.
Entre outros, participam juízes estaduais e federais, integrantes do Ministério
Público es das Defensorias Públicas e policiais, psicólogos, assistentes sociais.
Estatística nefasta
América Latina
8% da população mundial
38% dos homicídios globais
Brasil – campeão em homicídios no mundo
60 mil assassinatos por ano ano
1 em cada 10 pessoas assassinadas no mundo é brasileira
Metas da Campanha Instinto de Vida
Em 10 anos, reduzir
homicídios em 50%
Queda anual de 7%
Fonte: Instituto Igarapé
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