quarta-feira, 1 de março de 2017

Pacientes morrem à espera de leitos de UTI na rede pública de Goiás



Dos 246 municípios, só 13 contam com atendimento de terapia intensiva.
Governo estadual diz que tem planos para expandir o atendimento.
Pessoas que precisam de leitos de Unidade de Terapia Intensiva (UTI) enfrentam uma verdadeira batalha pela vida na rede pública de saúde de Goiás. Isso porque dos 246 municípios goianos, só 13 têm esse tipo de atendimento. Assim, muitos pacientes em estado grave morrem antes mesmo de conseguir a transferência.


Foi o caso da dona de casa Janaína Pereira Brito, de 27 anos, que morava em Porangatu, no norte do estado. A mãe dela, Piedade Brito, conta que a filha tinha suspeita de H1N1 e morreu enquanto esperava por um leito de UTI. “Foram dois dias e meio praticamente ela esperou”, lembra.

A mãe conta que tentava a transferência da filha para Uruaçu, que fica a 120 km de onde mora, mas não conseguiu. O hospital da cidade conta com 40 leitos que deveriam estar funcionando desde 2014, mas nunca recebeu um paciente.


Uruaçu deveria ter hospital desde 2014, mas local segue em obras

O mesmo drama ocorre em Quirinópolis, no leste do estado. O hospital municipal tem 10 leitos de UTI prontos, mas faltam médicos e equipamentos.



Se estivesse funcionando, pessoas como o aposentado Aristides Cerqueira teriam a chance de não se tornarem vítimas fatais. Ele morreu dois dias depois de entrar em uma lista de espera por uma vaga.

“O próprio médico me falou que ele teria chance, mas demorou demais”, contou o filho de Aristides, o locutor comercial Paulo César Miclos.


Entorno do DF

  • Situação complicada também para os moradores do Entorno Sul do Distrito Federal, composto por cidades como Valparaíso de Goiás, Luziânia, Santo Antônio do Descoberto, Novo Gama, Cristalina e Cidade Ocidental. São quase 1,1 milhão de habitantes, mas não há nenhum leito de UTI disponível.

Com isso, os pacientes precisam recorrer aos hospitais do Distrito Federal, mas nem sempre conseguem. Foi o que aconteceu com Osmar Martins Coelho, que teve um derrame e foi internado no Hospital do Gama. Ele esperou 20 dias pela vaga, mas morreu antes da transferência.


“Eles [médicos] falaram que ele precisava de uma UTI e a gente correu muito, mas não conseguiu, aí ele acabou falecendo”, lamentou a filha de Osmar, a dona de casa Dayana Pereira Martins.


Já a cidade de Águas Lindas de Goiás, que também fica no Entorno de Brasília, deveria ter recebido 40 leitos para tratamento intensivo em 2010. No entanto, eles nunca saíram do papel. O motivo foi uma série de problemas, entre desvio de verbas, erros no projeto e o Tribunal de Contas da União acabou embargando a obra. Os trabalhos foram retomados há dois anos, mas seguem em andamento.


“É muito sofrimento aqui. Você escolhe uma cidade para morar achando que terá uma cobertura pela prefeitura, pelo governo, mas não tem, né”, lamentou o mestre de obras Israel Gomes de Jesus.
Osmar Coelho esperou 20 dias por uma UTI, mas morreu sem conseguir

A região do Entorno de Brasília tem ligação com a Central de Regulação de Vagas de Goiânia, mas isso não é suficiente. “Essa pactuação não atende a nossa demanda. Hoje temos pacientes que ficam cinco, seis, sete dias esperando por uma UTI”, afirma o secretário de Saúde de Luziânia, Whaterson Roriz.



Quem ainda está na luta por uma vaga, conta que a angústia e sofrimento tomam conta da situação. Neta de José Mariano Carneiro, de 82 anos, Lorena diz que o avô está em uma fila de espera com 54 pacientes. Ele já enfrentou 3 horas de viagem de Itapirapuã, no noroeste do estado, até Goiânia, mas ainda não conseguiu a terapia intensiva.


“Meu avô não tem condição de esperar, porque essa vaga só vai sair depois que meu avô sair daqui dentro de um caixão”, reclamou Lorena.


Respostas

  • A reportagem entrou em contato com as prefeituras das cidades onde foram relatados os problemas. Em Porangatu e Itapirapuã, as administrações informaram que dependem da Central de Regulação de Vagas de Goiânia.

Já a Secretaria de Saúde de Quirinópolis afirmou que vai buscar parcerias com os governos estadual e federal para colocar os 10 leitos de UTI em funcionamento.


As prefeituras de Uruaçu e Águas Lindas de Goiás destacaram que os hospitais que estão em obras só devem funcionar a partir do ano que vem.


A Secretaria Estadual de Saúde de Goiás informou que deve criar mais 126 leitos de UTI até o fim deste ano. Além disso, ressaltou que ainda estuda a construção de um hospital de emergência e urgência em Valparaíso de Goiás.

 
Dos 246 municípios de GO, apenas 13 têm leitos de UTI na rede pública


Confira mais detalhes G1

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