sexta-feira, 24 de abril de 2015

GRANA CURTA SÓ DEUS NA CAUSA





- Igrejas registram queda nas doações de fieis. Elas alegam que estão endividadas e afetadas pela alta da inflação. O recuo na arrecadação coincide com o aumento da água e luz. Católicos e evangélicos veem dias difíceis pela frente
Luziânia – “Não vou negar que o dízimo caiu cerca de 30% de janeiro até hoje. A situação piorou porque a luz e a água quase dobrou o preço. O nosso futuro é incerto. Muitos dos nossos fieis perderam o emprego e, sem dinheiro, não tem como dar o dízimo. Aí vira uma bola de neve, em efeito cascata. Sem dinheiro, não tem como prosseguir”. O discurso desolador é de um pastor de uma igreja evangélica localizada no distrito do Jardim do Ingá. Ele pediu anonimato.
A igreja do pastor anônimo, que além de comandar um templo com cerca de 300 fieis é servidor do GDF, está na ativa há 10 anos e segundo ele, não se lembra de ter passado por uma crise tão grave. “Hoje o dinheiro do dízimo é insuficiente para manter a igreja. Ela ainda está em pé porque recebe outros tipos de doações”, disse o religioso. “A situação de inflação alta pegou todo mundo. Com o dízimo não é diferente. Aqui (na igreja) a situação não é diferente da casa dos fieis, tudo subiu de preço”. O relato é de um homem que trabalha numa igreja católica no município de Luziânia. Ele disse que nos três primeiros meses de 2015, a arrecadação com o dízimo caiu 25%. “O que vale é que realizamos outros tipos de promoções, como bingos, festas juninas e jantares”.
A verdade é que a crise econômica bateu à porta das igrejas. Com o orçamento apertado, fieis têm doado cada vez menos, obrigando padres e pastores a refazerem as contas do mês. Ações sociais, rifas e almoços de domingo, que ajudavam a turbinar a arrecadação, não atraem mais o mesmo número de interessados. A queda no volume do dízimo e ofertas, acompanhada do aumento de gastos com faturas de água e luz, por exemplo, preocupa administradores de templos católicos e evangélicos.
Segundo o Banco Central, o endividamento das famílias começou em 2015, após três meses seguidos de recuo: em janeiro, os lares comprometeram 46,35% da renda acumulada em 12 meses com débitos. Em março, pesquisa da Confederação Nacional do Comércio de Bens, Serviços e Turismo (CNC) indicou que quase seis em cada 10 lares brasileiros estavam enrolados em dívidas com cheques, cartões, carnês ou qualquer outro tipo de empréstimo.
Assim, a inflação persistente, atualmente em torno de 8% ao ano, corroeu o poder de compra dos fieis, que também se viram obrigados a fazer escolhas na hora de contribuir. “No ofertório das missas, ainda percebemos que há muita generosidade, mas quando fazemos alguma atividade extra pedindo contribuição, o pessoal já não ajuda tanto, devido a perda do poder aquisitivo”, comenta o padre José Emerson Trindade, em Ceilândia.
O curioso, é que o maior baque vem sendo observado nos templos localizados em áreas mais nobres. Em comunidades mais pobres, a oferta, embora tenha diminuído, tende a ser mais fiel.


Fonte: "Jornal o Mensageiro"
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