sexta-feira, 29 de janeiro de 2016

“Não posso perder o meu filho”, diz mãe do menino que chorou ao saber que voltaria a morar com o pai.

“Foi desumano o que o juiz fez. Não ouviu minhas testemunhas, não escutou meu filho. Não me permitiu dar detalhes. Nem pude me despedir”, lembra

MIRELLE PINHEIRO

“Não posso mais ser omissa. Não posso perder meu filho”, disse  a servidora pública Rosilene Batista, 31 anos, que há dois dias afirma não receber notícias do filho de 6 anos. A criança voltou a morar com o pai, em São Paulo, após uma decisão judicial. O drama vivido pela família ganhou força nas redes sociais após a divulgação de um vídeo que mostra a reação do garoto ao saber que teria que voltar para casa do pai. “Eu ligo, mando mensagem, mas não me deixam conversar com ele. É desesperador ficar sem saber se meu filho está bem”, conta Rosilene.

Veja o depoimento de Rosilene

Segundo a mãe, o garoto sofria maus-tratos na casa em que ex-marido mora com a madrasta. “Foi desumano o que o juiz fez. Não ouviu minhas testemunhas, não escutou meu filho. Não me permitiu dar detalhes. Nem pude me despedir”, lembra. A reportagem tentou contato com o pai do menino e com a madrasta, mas eles não atenderam as ligações.

Após receber a notícia de que voltaria a morar com o pai, criança se desespera, pede para ficar em Brasília e comove a internet

A audiência teve duração de cinco horas, ao final, quando soube da sentença, a mulher passou mal e teve de ser socorrida por uma equipe do Corpo de Bombeiros. “O procedimento foi errado do início ao fim”.

“Tive que me ausentar da sala quando o pai prestou depoimento. Quando chegou a minha vez, ele acompanhou tudo. Tenho denúncias de Maria da Penha contra esse agressor”, completa. Agora, a família luta para conseguir a guarda da criança.

Na tarde desta sexta-feira (29/1) um grupo de mulheres organizou uma manifestação para dar apoio a mãe. O ato estava programado para ocorrer em frente ao Fórum do Riacho Fundo I. Uma página também foi criada no Facebook chamada “Todos por Samuel”.

Processo

De acordo com o processo que tramita Tribunal de Justiça do Distrito Federal e Territórios (TJDFT), Rosilene tirou a criança da guarda do pai sem o consentimento dele. Na decisão do juiz consta que ela trouxe o menino para o DF, retirando-o de seu convívio familiar, parentes, amigos, escola e consultas médicas.

Diante dos fatos, o pai ajuizou, na comarca de Capivar (SP), ação de busca e apreensão com pedido liminar, o que foi deferido pelo juízo de São Paulo, com a expedição de carta precatória, documento que um juiz envia a outro de outro estado. Em outubro do ano passado, a mãe de Samuel tomou conhecimento da situação e ajuizou uma ação de modificação da guarda.

Denúncias

Rosilene conta que conheceu o ex-marido em 2008. Ele é operário e veio a Brasília para fazer um curso em uma igreja evangélica do Riacho Fundo II. Com três meses de namoro, os dois se casaram e passaram a viver em uma casa no Distrito Federal. A mulher conta que sofria agressões constantes do marido.

“Cheguei a registrar ocorrência. Ele me ameaçou de morte várias vezes”, lembra. Em 2010, ela, a filha de 8 anos, fruto de outro casamento, e Samuel fugiram de casa. Dois anos depois Rosilene diz que teve que passar a guarda de Samuel para o pai biológico pois foi coagida pelo homem.

Durante os três anos que a criança ficou sob os cuidados do pai e da madrasta, a mãe diz que conseguia falar com o filho apenas por telefone e, ainda assim, com a supervisão dos pais.

Em janeiro de 2015, Rosilene abriu um processo para recuperar a guarda do filho. Em agosto daquele ano, a denuncia de um familiar da criança que também mora em São Paulo deixou os parentes preocupados no Distrito Federal. “Essa pessoa me procurou e me alertou sobre o comportamento de Samuel. Me disse que ele não era uma criança normal”, citou Rosilene.


No feriado de 7 de setembro, dia em que a mãe tinha o direito de ficar com o filho, Rosileine levou o garoto para o Riacho Fundo 2. Ele ficou hospedado na casa da mãe e dos avós. “Começamos uma corrida contra o tempo para tentar a guarda dele definitiva. Conseguimos a guarda provisória”, explica, sustentando que reuniu laudos do Conselho Tutelar, psicólogos e médicos que atestam os maus-tratos.

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