Ela pede identificação de pessoas que a hostilizaram na
internet.
E quer que políticos e artistas paguem R$ 800 mil de
indenização.
Criticada após ser "crucificada" durante a 19ª
Parada Gay, a atriz e transexual Viviany Beleboni entrou na Justiça de São
Paulo com processo contra o Facebook para obrigar a rede social a identificar
usuários que, após o desfile, publicaram montagens de fotos dela em meio a
imagens de sexo explicíto. Ela também abriu sete processos em que reivindica
indenização por danos morais no valor total de R$ 800 mil.
Entre os alvos estão o senador Magno Malta (PR-ES),
acusado por ela de ofender sua honra durante discurso, e o deputado federal
Marco Feliciano (PSC-SP), apontado por supostamente ter usado montagens de
fotos do desfile com imagens de sexo explícito.
A advogada de Beleboni, Cristiane Leandro de Novais, diz
que, por causa das imagens após a Parada, sua cliente tem sido reconhecida e
sofrido agressões verbais ao frequentar lojas.
Em um dos processos, a transexual afirma que recebeu
ameaças de morte por rede social e ligações, "já tendo sido inclusive
agredida em frente à sua casa". "Ela está com síndrome do pânico, não
sai mais de casa por causa disso", afirmou.
A advogada representa a organização não-governamental
ABCDS, responsável pelo trio elétrico em que a transexual desfilou.
O senador Magno Malta afirmou, por meio de sua
assessoria, que recebeu com naturalidade a informação sobre a ação judicial por
entender que é direito de Beleboni entrar na Justiça, assim como também é
direito dele, senador, falar.
O senador acrescentou que não retira nenhum ponto do que
falou e que entrou com uma queixa-crime na Procuradoria Geral da República
contra a transexual por crime de vilipêndio, escárnio e intolerância religiosa.
O G1 entrou em contato com a assessoria do deputado Marco Feliciano, que ainda
não se manifestou. O Facebook disse que não foi notificado.
Ações
Na ação de Beleboni contra Malta, o juiz Marcos Roberto
de Souza Bernicchi indeferiu o pedido antecipação da decisão. "Claramente
o objetivo da pessoa que se dispõe a se postar em uma cruz em uma manifestação
popular é de chamar a atenção por meio [de] atitude controversa e chocante. E o
objetivo da artista foi alcançado, já que o choque gerou a controvérsia. Não
poderia a autora esperar reação outra que não fosse a intolerância de quem
assumiu o risco de ofender", disse o juiz, no despacho.
"As manifestações do réu, que constam da petição
inicial, não foram exacerbadas contra a autora, já que não atingiram sua pessoa
e sim o ato por ela praticado. O conteúdo das críticas manifestadas pelo réu
tem cunho político e social, que são inerentes ao cargos que exerce, e,
repita-se, em nenhum momento voltou-se contra a pessoa da autora. Indefiro,
pois, a tutela requerida", afirmou.
Manifestação
Beleboni, de 26 anos, é transexual, espírita e chocou
parte dos participantes da 19ª Parada do Orgulho LGBT (Lésbicas, Gays,
Bissexuais, Travestis e Transexuais).
Ela se prendeu à cruz, encenando o sofrimento de Jesus, para
“representar a agressão e a dor que a comunidade LGBT tem passado”. "Nunca
tive a intenção de atacar a igreja. A ideia era, mesmo, protestar contra a
homofobia", explicou.
Uma imagem da cruz foi capturada pelo fotógrafo João
Castellano, da agência Reuters. A atriz disse que recebeu milhares de ameaças
desde a publicação da foto. “Teve gente dizendo que ano que vem vão colocar
fogo na parada”, contou.
Dias após a Parada Gay,
deputados evangélicos e católicos fizeram uma manifestação no plenário
da Câmara contra a parada gay, a "marcha das vadias" e a "marcha
da maconha". Com cartazes que traziam fotos do desfile, eles subiram à
tribuna e pediram que atos públicos que "ferem a família" e a
liberdade religiosa sejam transformados em "crime hediondo". Eles
criticaram, sobretudo, o fato de Beleboni ter se prendido na cruz, durante a
parada gay, para representar o sofrimento dos homossexuais no Brasil
Viviany explica que, nos últimos tempos, duas conhecidas
foram agredidas. Uma delas teria sido morta com quatro tiros em Porto Alegre.
“Eu vejo a Parada como um protesto, não como uma festa”, disse. “Usei as marcas
de Jesus, que foi humilhado, agredido e morto. Justamente o que tem acontecido
com muita gente no meio GLS, mas com isso ninguém se choca.”
Em cima da cruz, uma placa foi colocada com o texto:
“Basta de homofobia”. “As pessoas não sabem ler? Coloquei a placa justamente
para ficar claro que era um protesto. E mais: tudo bem encenar a paixão de
cristo, mas quando é um travesti não pode, não é?”.
O deputado federal Marco Feliciano publicou um texto no
Facebook no dia seguinte da Parada falando sobre a manifestação de Viviany:
“Imagens que chocam, agridem e machucam. Isto pode? É liberdade de expressão,
dizem eles. Debochar da fé na porta denuda igreja pode? Colocar Jesus num beijo
gay pode? Enfiar um crucifixo no ânus pode? Despedaçar símbolos religiosos
pode? Usar símbolos católicos como tapa sexo pode? Diizer que sou contra tudo
isso NÃO PODE? Sou intolerante, né?”.
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